17 de nov. de 2010

Aprendendo Lições na Caverna.

Bom dia! Gostaria de compartilhar com vocês hoje, um post que escrevi para o CDC (Conversa Decente Cristã) onde sou colunista juntamente com outros três amigos. É um texto muito especial pra mim, enquanto o escrevia pude sentir Deus confortando o meu próprio coração, e sei que tem um propósito dEle em colocar em meu ser a vontade de dispor este texto aqui. Espero que Ele fale de forma graciosa com vocês assim como falou comigo, e peço que apesar do tamanho um pouco extenso não deixe de lê-lo até o final.

Tudo começou com uma discussão. As brigas continuaram, mas agora, o silêncio da indiferença ecoa nas vielas do seu ser, o amor que havia, se foi e o casamento que parecia tão sólido, ruiu. Você conhece a dor da perda, assistiu a muitos funerais, presenciou pessoas queridas se distanciarem, filhos, pais, esposas morrerem, amizades desfeitas, e tudo o que existe é um vazio e desespero tão intensos, quase palpáveis.

Todos perderam a confiança em você, porque se tornou um estranho, até perigoso. O seu vício é tamanho que já não basta se embriagar até cair ou simples cigarros, aumentou-se a dose e o que surte efeito é a cocaína e o êxtase; não existem mais escrúpulos, tudo é válido para sustentar esta situação: enganar, roubar, espancar e até matar.

Conhece também a forma como as pessoas o tratam. Olhos de acusação, línguas afiadas que dizem: "Olha só o perdedor. Não consegue emprego. Também pudera! Quem confia em um ex-presidiário?" ou então "Lá está aquela mulher de vida fácil, uma prostituta. Não fale com ela, não se aproxime, ela é nociva!"

Em determinado momento, você gastou um pouco além do esperado, perdeu o controle da situação e sua dívida é tão grande, que não sabe o que fazer, a quem recorrer. Vive só, abandonado, ao relento, à própria sorte, em ruas violentas, em meio aos transeuntes de coração mais gélido que a neve. A fome, o frio, a perda de identidade, falta de amor, o estereótipo de desocupado, de vagabundo, são uma constante em seu dia.

Perversão é o seu lema.Você é um explorador, um sádico que abusa de crianças, e o seu prazer infame só é consumado, muitas vezes, com o óbito de um inocente. Você sofreu tanto e agora isso? Descobriu que lutou até mesmo quando não existia força alguma contra esta doença, mas são poucos os seus dias.

Ou simplesmente um cristão, que depois de tantas lutas, mesmo presenciando a grandeza de Deus, está desgastado, anda aos trambolhões em sua fé pequena e em seu desânimo. A lista é enorme... Você conhece a escuridão, o frio, o medo e o silêncio sempre constantes e crescentes da caverna. Na vida, não importa quem você é ou o que faz, o tamanho da sua conta bancária, sua cor, a religião que professa ter, se é influente ou está renegado a viver às margens da sociedade, culto ou iletrado. Nada disso poderá poupá-lo de adentrar o sombrio ambiente das cavernas que nos estão reservadas. Isso é fato!

Mas, hoje, quero compartilhar a história de um homem que sabe bem a que me refiro. O nome dele? Elias. Quem ele era? Um grande profeta que desafiou os famosos e cruéis Acabe e Jezabel, rei e rainha de Israel e os 450 falsos profetas de Baal e prevaleceu. Um homem excepcional que andava com Deus, ouvia Suas palavras e era direcionado por Ele. Mas houve um dia, em que as adversidades enfrentadas por ele chegaram a tal ponto, que decidiu fugir para o deserto e morrer. Suas forças se extinguiram, o cansaço passou a fazer parte de sua vida, e então Elias entrou na caverna, literalmente.

Convido-o a acompanhar comigo esta história no livro de 1 Reis 19.1-13, que diz assim:

"Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito e como matara todos os profetas à espada. Então, Jezabel mandou um mensageiro a Elias a dizer-lhe: Façam-me os deuses como lhes aprouver se amanhã a estas horas não fizer eu à tua vida como fizeste a cada um deles. Temendo, pois, Elias, levantou-se, e para salvar sua vida, se foi, e chegou a Berseba, que pertence a Judá; e ali deixou o seu moço.

Ele mesmo, porém, se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte e disse: Basta; toma agora, ó Senhor, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais. Deitou-se e dormiu debaixo do zimbro; eis que um anjo o tocou e lhe disse: Levanta-te e come. Olhou ele e viu, junto à cabeceira, um pão cozido sobre pedras em brasa e uma botija de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir.

Voltou segunda vez o anjo do Senhor, tocou-o e lhe disse: Levanta-te e come, porque o caminho te será sobremodo longo. Levantou-se, pois, comeu e bebeu; e, com a força daquela comida, caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus. Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis que lhe veio a palavra do Senhor e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?

Ele respondeu: Tenho sido zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida. Disse-lhe Deus: Sai e põe-te neste monte perante o Senhor. Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranquilo e suave.

Ouvindo-o Elias, envolveu o rosto no seu manto e, saindo, pôs-se à entrada da caverna. Eis que lhe veio uma voz e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?"

Meditando neste texto, aprendemos algumas coisas muito especiais:
Aprendemos que desertos e cavernas, apesar de áridos, difíceis e locais de tentação, são lugares onde encontramos o Senhor! Observe que em nenhum momento Deus esteve ausente da trajetória que Elias estava trilhando. Foi assim com Moisés e o povo de Israel, durante quarenta anos no deserto e é assim também conosco hoje. Prefiro estar no deserto com o Senhor, do que em um oásis longe dEle!

Aprendemos que Deus supre nossas necessidades. No deserto, Ele enviou um anjo para fortalecer Elias, suprindo suas necessidades físicas, espirituais e preparando-o para que tivesse condições de seguir em frente e se encontrar com Deus na caverna. Aprendemos que o silêncio das cavernas não é casual. Tem o propósito de desenvolver em nós a sensibilidade espiritual para ver e ouvir o Senhor em qualquer situação, por mais adversa que esta seja.

Elias teve esta percepção, ele sabia que não precisava de grandes acontecimentos, de façanhas para sentir a presença do Senhor. Ele sabia que Deus também se revela no que é pequeno, singelo e que passa despercebido por muitos. Infelizmente, é o que mais ocorre conosco. Estamos tão ocupados, necessitados de respostas, que na nossa confusão, na vida agitada que levamos, perdemos oportunidades de ouvir o Senhor falar conosco, porque achamos que Ele só fala em grandes convenções, congressos cheios de pessoas, com pregadores saturados de fama humana.

Aprendemos que Deus nos tira da caverna, como fez com Elias. Ele nos chama para fora dela, e nos habilita a seguirmos adiante, nos fortalecendo e nos dando a certeza de que estará conosco em todos os momentos. Não entramos em cavernas por acaso, muitas vezes, somos nós mesmos que nos dirigimos para lá, seja por nossos pecados, por nossa arrogância, precipitação, e é certo que o Senhor não se agrada que fiquemos lá.

Mas outras vezes, é Ele quem nos conduz até lá, não para nos punir, mas para nos ensinar algo, para nos provar, e não se engane, por mais doloroso que isso possa ser, Ele só nos chamará e nos guiará para longe desse nevoeiro quando estivermos prontos. E por fim, aprendemos que chegará o tempo de sairmos da caverna. Mas o que acontece é que nos psicoadaptamos tanto com a escuridão, com os problemas, chegamos até mesmo a tirar alguns "benefícios" disso, que perdemos a noção de que é tempo de sair da escuridão da caverna para a luz de um novo dia. "O que fazes aqui, Elias?" Faça a si mesmo esta pergunta.

Em tudo isto, também aprendo Senhor, que não somos super heróis, não adianta fingir, não somos diferentes no tocante a este assunto. Muitos estão neste momento, como eu, na caverna, e tantos que nos rodeiam nem ao menos percebem isto. Mas eu também aprendo que, cedo ou tarde, o silêncio que reina em nossa caverna pessoal será rompido por Tua doce voz, e quando isto acontecer, e estou certa, vai acontecer, não seremos os mesmos, sairemos mais fortes, com ânimo renovado, provados pelo fogo das adversidades - e que importa que fiquem as marcas? - as cicatrizes serão apenas mais um lembrete de que passamos pelo teste e fomos aprovados, continuamos firmes rumo ao alvo - Jesus Cristo!

"Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos." (2 Coríntios 4. 8-9)

"Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem, são eternas." (2 Coríntios 4. 17-18)

Ele está presente! Acredite! Em cada momento, no seu vale, na sua alegria. Deus está!